"DISTINCIÓN JACOBEA" Ordem SANTIAGO DE COMPOSTELA

02-04-2019 12:00
"DISTINCIÓN JACOBEA"
Pela Ordem do Caminho de
SANTIAGO DE COMPOSTELA
Atribuição da Medalha de Ouro
2 de abril de 2019
 
 
 
 
 
Artigo do Atlântico Expresso | Segunda-feira, 8 de Abril de 2019 | Reportagem
 
 
Romeiros de Vila Franca do Campo vão a Santiago de Compostela em 2021
 
Intercâmbio entre romarias quaresmais e caminhadas a Santiago de Compostela unem tradições de sítios diferentes numa espiritualidade distinta mas igualmente ampla
 
 
Vicente Quiroga é um conhecido empresário
residente em São Miguel, há já 10 anos. Revelando-
se feliz com a vida que aqui estabeleceu
com a sua família, o espanhol natural da Galiza
é membro da Ordem do Caminho de Santiago de
Compostela e admite ter um carinho e um respeito
grandes pelas nossas romarias quaresmais. No
entanto, esta ligação com o rancho de romeiros
de Vila Franca do Campo nasceu de uma complicação
da vida.
“Esta ideia começou há cinco anos, porque
um dos romeiros trabalhava connosco. Naquela
altura tivemos um bisneto que nasceu em condições
difíceis, prematuro com 600 gramas. Ele estava
num hospital em Lisboa e os médicos disseram-
nos que não apenas a ciência poderia salvar
aquela criança, que era preciso muita oração para
ele se salvar”, conta emocionado.
Foi assim que aquela família recorreu “ao
rancho de romeiros de Vila Franca do Campo
para que na altura que fossem de romaria rezassem
pelo nosso bisneto, o Mateus. Assim foi e
começou esta ligação. A partir daí, todos os anos
damos um almoço aos romeiros de Vila Franca
do Campo e fizemos as orações correspondentes,
como se faz em toda a romaria”, conta Vicente
Quiroga, acrescendo que a promessa será cumprida
enquanto vida tiver.
Tendo em conta que este ano se celebrava o
quinto aniversário desta ligação, o empresário espanhol
decidiu que deveria fazer algo diferenciado.
“Como sou membro da Ordem do Caminho
de Santiago de Compostela, pedi aos meus colegas
da ordem que assistissem à entrega de uma
medalha de ouro aos romeiros de Vila Franca do
Campo por todas as orações que fizeram pela nossa
família, em específico por aquele meu bisneto.
Assim foi! Eles vieram, entregamos a Medalha
de Ouro da Ordem do Caminho de Santiago, colectiva
para todos eles, e fizemos uma distinção
especial para cada um entregando a concha que
todos os romeiros de Santiago de Compostela levam.
De certa forma, tal situação nomeia estes
romeiros como romeiros do mundo, porque Santiago
de Compostela é conhecida como a capital
dos romeiros de todo o mundo”, explicou.
Na ocasião, “o Vice-presidente da Ordem do
Caminho, que assistiu a esta entrega, convidou
o grupo de romeiros a participar numa romaria
pequena e num convívio em Santiago de Compostela
em 2021, que é o Ano Santo em Santiago
de Compostela. Vamos organizar tudo até lá para
eles serem nossos convidados durante quatro ou
cinco dias em Santiago”. É de realçar que os romeiros
em causa gostaram da ideia, irão com os
seus trajes e farão as suas tradições todas de cá
por terras de Santiago de Compostela.
Vicente Quiroga conta que “para os romeiros
foi uma surpresa muito grande e agradável e
estão muito entusiasmados em fazer o caminho,
embora não seja o caminho completo, porque
este é muito grande e eles não podem estar lá
muitos dias”.
Assim sendo, o caminho a percorrer por estes
açorianos será o do Monte do Gozo até Santiago
de Compostela. Então, “eles serão recebidos
na Entrada da Catedral, como é costume, e vão
assistir à Missa do Peregrino, uma missa muito
tradicional onde o bota-fumeiro faz a sua função
e dá um aroma a todos os romeiros que estão ali e
que vêm cansados de andar”.
Além da caminhada, os romeiros de Vila
Franca do Campo irão passar uns dias com os
membros da ordem, para “conhecerem os costumes
e tradições dos peregrinos e conviverem com
eles, já que vêm de todo o mundo. Neste ano de
2021 esperamos alcançar quase meio milhão de
peregrinos em Santiago que vêm a pé de todas as
partes do mundo”, destaca Vicente Quiroga.
Da parte da Ordem de Compostela, “estamos
muito entusiasmados e vamos trabalhar no tempo
que nos falta para que isso se torne uma realidade
e para que eles possam viver a experiência de
Santiago”.
Questionado sobre a reacção da ordem a esta
nossa manifestação de fé, contou-nos que eles
não a conheciam e que a satisfação não poderia
ser maior. “Eles não sabiam da religiosidade e do
sacrifício que as nossas romarias fazem ao estarem
oito dias a andar por todas as igrejas de todas
as freguesias da ilha. E não é só isso, é que durante
estes dias eles vivem da convivência com o
povo que lhes dá comida e dormida, o que é algo
muito próprio das nossas romarias. No caminho
de Santiago temos os albergues estabelecidos e é
outra disciplina totalmente diferente.”
Certo é que “os membros desta ordem ficaram
muito sentidos com esta fé que há aqui na
ilha e foram embora verdadeiramente emocionados
com a ideia de receber este grupo de romeiros
na sua cidade para que eles lhes transmitam,
também, esta religiosidade e esta fé no caminho
e na vida”.
Vicente Quiroga já fez este caminho duas
vezes e tem esperanças de ainda participar numa
romaria. “Estas caminhadas, além de serem de
oração, são caminhadas de encontro connosco
mesmos e com a vida. Durante o caminho vamos
pensando em muitas coisas. Como membro
da ordem, já fiz o caminho e nesta caminhada
há uma luta entre o bem e o mal, em que ficamos
por vezes tentados a parar e sem perceber
por que motivos estamos ali. E depois pensamos
bem e percebemos que temos que continuar o caminho,
que é um sacrifico que nos vais dar um
prazer enorme quando chegarmos a Santiago e
por termos cumprido com este compromisso. É
um encontro connosco mesmos verdadeiramente
satisfatório”, revela o caminheiro.
Sobre as diferenças entre as nossas romarias e
as caminhadas a Santiago de Compostela, dissenos
este membro da ordem que é muito difícil de
comparar. “As romarias de cá são sempre feitas
com gente aqui da terra e no caminho de Santiago
temos peregrinos de todo o mundo, desde chineses,
alemães, ingleses. Alguns vêm só pela arte
que o próprio caminho tem, outros vêm para fazer
o caminho antigo e outros vêm verdadeiramente
por religiosidade. É muito difícil de comparar,
porque aqui só se vai na romaria por uma razão
espiritual muito grande”, explica o espanhol.
Desta forma, as romarias quaresmais têm
um valor diferente para Vicente Quiroga. “Lembram-
me muito as caminhadas em Santiago, com
a diferença que aqui as caminhadas são mais espirituais
e os peregrinos vão rezando todo o caminho.
O caminho de Santiago é maior e também
é difícil, porque tem muitas montanhas, subidas,
descidas, caminhos estreitos. É duro, mas totalmente
diferente!”
Seja como for, afirma peremptório que esta
promessa valeu a pena. “O menino está bem e
fez cinco anos em Março, o que coincide com a
romaria. Ele assistiu connosco à entrega da medalha
e de outros símbolos e ao almoço; aliás, assiste
todos os anos. Está muito bem, é um rapaz
que não tem nenhuma carência e que vive feliz.
É uma promessa para o resto da minha vida”, declara
o bisavô.
Tendo o encontro entre todos estes romeiros
acontecido na igreja Matriz da Ribeira Grande, o
espanhol garante que sentiu “uma emoção indescritível
e impressionante. Penso que naquele momento
chorávamos todos, tanto romeiros, como
as família que ali estavam. E mesmo os que vieram
de Santiago estavam emocionados e naquele
momento brilharam-nos os olhos”.
Não obstante a ligação ter sido estabelecida
primeiramente com os romeiros de Vila Franca
do Campo, diz que a porta está aberta para todos
os romeiros. “A Ordem do Caminho de Santiago
de Compostela quer trabalhar com todos os romeiros
do mundo, como já está a fazer, e quererá
envolver no futuro outros romeiros e convidá-los
a participar nestes andamentos da vida”, concluiu
o espanhol que já fez de São Miguel a sua casa.
 
Patrícia Carreiro